Fratres in Unum.com em 18 OUTUBRO, 2014:
As apreensões em torno do Sínodo da Família se justificam. A crise é grave, gravíssima. Temem-se as falsas soluções.
A pressão é muito forte por uma estratégia sutil: nada muda-se na doutrina, apenas no tom, na abordagem. Aí é que está o perigo. Não dá para esconder o desconforto, a perplexidade, a angústia dos católicos, em todo o mundo.
“Ao menos um bispo perguntou sobre o que ocorreu com o conceito de pecado.
A palavra ‘pecado’ aparece raramente no relatório de 5 mil palavras”, afirmou John Travis. Religiosos e leigos sérios são procurados por fiéis sinceros e devotos autênticos, que querem entender o que está acontecendo. Muitos evitam se posicionar pois temem o “linchamento moral”, a represália que podem sofrer se alguma opinião for considerada intempestiva.
Mas não são lideranças católicas leigas que começam a sair do silêncio e manifestar graves preocupações. São cardeais da envergadura de Stanislaw Gadecki (Polônia), Wilfrid Fox Napier (África do Sul) e Raymond Burke (Estados Unidos) que reagem. E tais reações se intensificaram após a apresentação da Relatio post disceptationem.
Não é a mídia internacional que está fazendo sensacionalismo e distorcendo os fatos, como falam aqueles que tentam encobrir o mal estar geral. São os próprios cardeais que querem evitar que as propostas apresentadas pelos alemães Walter Kasper e Reinhard Marx, com a anuência do prelado italiano Bruno Forte, sejam contempladas no documento final. E pior ainda, que sejam acatadas nas decisões que serão tomadas após as deliberações, no próximo ano.
“Nada será mudado na doutrina”, enfatizam os defensores das propostas mais aggiornadas. Mas, é justamente isso que preocupa. Manter a doutrina e mudar o tom: em vez de condenar o pecado, recorrer a misericórdia como retórica quando direcionadas a pecadores não penitentes.
Que efeitos serão acarretados com a “lei da gradualidade”, “que permite colher os elementos positivos em todas as situações até agora definidas com pecadoras pela Igreja”, como destacou o Prof. Roberto de Mattei? A mudança no tom visa isso: relativizar e minimizar as conseqüências do pecado, algo que o próprio Jesus evitou, como fica evidente no episódio da mulher adúltera.
Qual foi a atitude de Jesus para com a pecadora?
Jesus disse: “quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”, evitando o apedrejamento da mulher adúltera, porque estava diante de uma mulher inteiramente arrependida. E não se despediu dela sem dizer: “Vai e não tornes a pecar!”.
Teve misericórdia para com a mulher pecadora, porque ela estava arrependida, e não deixou de exortá-la a não mais pecar. Esse é o exemplo deixado pelo Divino Mestre.
Sabemos que “a letra mata, o espírito vivifica”. A sã doutrina católica não é apenas um texto normativo, mas uma via propositiva, que requer ser vivida, para que a adesão ao Evangelho seja realmente testemunhada. Daí ser uma via exigente, que nos obriga a escolhas difíceis, a decisões penosas, muitas vezes, porque a liberdade justamente nos é dada para renunciar ao mal.
Se a liberdade acaba sendo condescendente com o mal, a pessoa deixa de ser livre e se torna escrava das piores ilusões. Daí pode perder-se por deixar de recorrer à graça divina, atenuada que está a sua consciência do pecado, por uma misericórdia que apenas o anestesiou e não o levou à conversão.
O papel de um Sínodo é, portanto, confirmar a fé, a beleza e a riqueza da sã doutrina católica, e não deixar-se seduzir por uma estratégia que coloca na sombra a realidade do pecado, e instrumentaliza a misericórdia numa postura que talvez não leve o pecador a tomar consciência do seu pecado, dificultando assim o seu verdadeiro arrependimento.
A mudança no tom, principalmente, no campo da moral familiar, acentua as apreensões existentes, quando o conceito do pecado deixa de ser devidamente ressaltado. É uma estratégia, portanto, de risco, pois pode acarretar o contrário do que se pretende, dando mais debilidade e criando mais dificuldade na vivência da fé católica.
Por esse motivo o Sínodo tornou-se altamente problemático. E mais: os estudos mais recentes comprovam que forças políticas, culturais e econômicas agem (de fora, com parte do clero contagiado e conivente com a agenda globalista), pressionando o Vaticano a mudar o tom e a flexibilizar no modo como sempre se posicionou em relação aos “valores inegociáveis”.
A mudança no tom é a estratégia desejada pelos que interessam descatolizar a Igreja e neutralizar resistências no processo já em curso, e também viabilizar outras mudanças mais profundas que muitos desejam há tempos empreender, e querem fazer o quanto antes, visando minar assim a sã doutrina.
Daí a importância da posição tomada especialmente pelos cardeais Brandmüller, Burke, Caffarra, De Paolis e Müller, tão bem expressa no título da obra que eles recentemente publicaram e que diz tudo o que cada católico deve fazer, em meio aos tempos convulsivos em que vivemos: “PERMANECER NA VERDADE DE CRISTO”.
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