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I. Ensinar a orar
Um dia, conta-nos o evangelista São Lucas, Jesus encontrava-se num certo lugar a rezar. Quando terminou, um de seus seguidores disse-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11, 1). Em resposta a este apelo tão sincero quanto espontâneo, Jesus confiou à sua Igreja a “oração cristã fundamental” (CIC 2759): o Pai-nosso, uma verdadeira súmula de todo o Evangelho. Cristo ensina não apenas como devemos fazer oração; faz questão de lembrar-nos também da importância de rezarmos sempre sem jamais deixarmos de fazê-lo (cf. Lc 18, 1). A oração cristã, com efeito, é tão essencial à vida de quem se quer discípulo de Jesus que o Catecismo Romano coloca o seu ensino como a mais necessária obrigação do ministério pastoral: “Por isso, o principal empenho do pároco está em conseguir que seus piedosos ouvintes compreendam o que devem pedir a Deus e de que maneira o devem fazer” [1]. Essas palavras do Concílio de Trento não só permanecem válidas como adquirem nestes tempos ainda maior força, devido sobretudo à crescente participação dos fiéis leigos nas atividades catequéticas. Aprender e ensinar a rezar constituem, de fato, o primeiro dos nossos deveres de batizados.
II. A oração é necessária
Mas donde deriva a importância da oração? Qual o motivo de a Igreja ter dado sempre tanta ênfase a uma prática que, ao menos à primeira vista, parece “inútil” e “infrutífera”? Se Deus é amor, como lhe chama São João (cf. 1Jo 4, 8), e conhece as coisas de que precisamos, por que lhas devemos pedir? O quão necessária seja a oração, porém, é coisa que se deduz seguramente do fato de precisarmos da graça sobrenatural para podermos evitar o mal e fazer o bem. “Sem mim”, diz o Senhor, “nada podeis fazer” (Jo 15, 5); e o Apóstolo acrescenta: “Não somos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento” (2Cor 3, 5), porque é de Deus, que “opera tudo em todos” (1Cor 12, 6), que vem a nossa capacidade. Ele quer que oremos não porque precise de nossas preces e súplicas; somos nós que, para sairmos do nosso egoísmo, delas precisamos: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Lc 11, 9). Se não rezamos, portanto, não recebemos as graças de que precisamos. “Ora, quereis saber o que é um cristão sem graça? É um soldado sem armas, uma planta sem água, um corpo sem alimento” [2]. Deus não nos manda o impossível; mas sabe que necessitamos do seu auxílio para realizarmos o que nos manda. Por isto, clamava Santo Agostinho: Da quod iubes et iube quod vis, “Dai-nos, Senhor, o que nos manda e manda-nos o que quiserdes” [3].
III. “Quem reza se salva. Quem não reza se condena”
É também doutrina comum e certa, atestada por não poucos Santos Padres, que a oração, por disposição da divina Providência, é meio necessário à nossa salvação. Enquanto vivemos nesta terra, com efeito, não podemos presumir temerariamente que pertencemos ao número daqueles felizes predestinados que o Senhor escolheu para si desde todo o sempre [4]. Por esse motivo, a Igreja, que ora sem jamais desfalecer, chama também os seus filhos a, perseverando na via da justiça, viver conforme a exortação do Apóstolo: “Ofereçamos a Deus sem cessar sacrifícios de louvor” (Hb 13, 15), pedindo-lhe com súplicas constantes que leve a bom termo a boa obra começada em nós, pois só Ele, que opera o querer e o executar (cf. Fl 2, 13), tem o poder de sustentar quem está em pé (cf. Rm 14, 4), a fim de que persevere, e de reerguer o que caiu. É por isso que Santo Afonso de Ligório pôde dizer que
[…] quem reza certamente se salva, e quem não reza certamente será condenado. Todos os bem-aventurados, exceto as crianças, salvaram-se pela oração. Todos os condenados se perderam porque não rezaram. Se tivessem rezado, não se teriam perdido. E este é e será o maior desespero no inferno: o poder ter alcançado a salvação com facilidade, pedindo a Deus as graças necessárias. E, agora, esses miseráveis não têm mais tempo de rezar [5].
Alegremo-nos no Senhor por ainda termos tempo não somente de rezar, mas de aprender a rezar bem e com proveito. Neste início de nossa vida espiritual, repitamos com a simplicidade das crianças aquela primeira e singela oração que nossos pais e catequistas nos ensinaram: “Mãezinha do céu, eu não sei rezar. Eu só sei dizer: eu quero te amar”. De coração contrito e joelhos no chão, imploremos a Jesus a graça de nos tornarmos, com o seu auxílio, almas de profunda oração: “Senhor, ensina-nos a orar” — Domine, doce nos orare!
Referências
Catecismo Romano, IV, c. 1. Trad. port. de Leopoldo P. Martins. Rio de Janeiro: Vozes, 1951, p. 507.
G. Vaessen (org.), O Pequeno Missionário. 7.ª ed., Rio de Janeiro: Vozes, 1953, p. 272.
Confissões, l. XX, c. 29, 40; cf. De natura et gratia, c. 43, 40 (PL 44, 271).
Cf. Concílio de Trento, Decreto sobre a justificação, 6.ª sessão, de 13. jan. 1547, c. 12 (DH 1540).
Afonso de Ligório, A Oração. Trad. port. de Henrique Barros. 4.ª ed., São Paulo: Santuário, n. 28, p. 42. V. Antonio R. Marín, Teología de la Perfección Cristiana. Madrid: BAC, 2012, n. 478, p. 631.
Fonte: padrepauloricardo.org
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