ROMA – O Cardeal Raymond Burke está levantando graves receios a respeito do relatório final do Sínodo sobre a Família, afirmando que ele é falacioso e carece de clareza sobre uma doutrina católica fundamental.
Em comentários a Edward Pentin, do National Catholic Register, Burke discordou da seção intitulada “Discernimento e Integração” — parágrafos 84-86 — que trata dos católicos batizados que são divorciados e recasados no civil.
Segundo ele, a seção causa “preocupação imediata por causa de sua falta de clareza em um tema fundamental da fé: a indissolubilidade do vínculo matrimonial, ensinada a todos os homens tanto pela razão quanto pela fé.”
O relatório final do Sínodo, que não tem peso magisterial e não altera a doutrina ou a disciplina prévia referente à Comunhão para os divorciados e recasados no civil, exorta os católicos divorciados e recasados no civil a “serem mais integrados nas comunidades cristãs das diversas maneiras possíveis.”
“A lógica da integração é a chave para o acompanhamento pastoral dessas pessoas, de modo que atualmente elas sabem apenas que pertencem ao Corpo de Cristo, que é a Igreja, mas que podem ter uma experiência alegre e frutuosa dessa realidade,” afirma uma tradução inglesa do relatório, acrescentando que os pastores devem “discernir” cada caso de uniões não sacramentais.
Burke disse a Pentin que “integração” é um “termo mundano e teologicamente ambíguo.”
“Não vejo como isso pode ser ‘a chave do acompanhamento pastoral daqueles que estão em uniões matrimoniais irregulares.’ A chave interpretativa do cuidado pastoral deles deve ser a comunhão fundada na verdade do matrimônio em Cristo, que deve ser honrado e praticado, mesmo se uma das partes do matrimônio tiver sido abandonada pelo pecado da outra parte.”
“A graça do Sacramento do Santo Matrimônio fortalece o cônjuge abandonado a viver com fidelidade o vínculo matrimonial, continuando a buscar a salvação do esposo que abandonou a união matrimonial.”
“Desde minha infância conheço — e continuo encontrando — católicos fiéis cujos matrimônios, de alguma maneira, foram arruinados. Eles acreditam na graça do Sacramento, continuam acreditando na fidelidade do seu matrimônio. Eles olham para a Igreja em busca desse acompanhamento, que os ajuda a permanecer fiéis à verdade de Cristo em suas vidas,” disse.
Quando o relatório do Sínodo prossegue e cita o parágrafo 84 da Familiaris Consortio de São João Paulo II sobre a obrigação dos pastores de exercerem o “discernimento cuidadoso de situações” no que tange as uniões irregulares, Burke chamou o uso da citação de “falaciosa.”
“Embora, no nº. 84, o Papa São João Paulo II reconheça as diversas situações daqueles que estão vivendo em uma união irregular e exorte os pastores e toda a comunidade a ajudá-los como verdadeiros irmãos e irmãs em Cristo em virtude do Batismo, ele conclui: ‘Entretanto, a Igreja reafirma a sua prática, que se baseia nas Sagradas Escrituras, de não admitir à Comunhão Eucarística as pessoas divorciadas que se recasaram.’”
“Então, ele recorda o motivo para a prática: ‘o estado e a condição de vida dessas pessoas objetivamente contradiz essa união de amor entre Cristo e a Igreja, que se expressa e realiza pela Eucaristia.’ Ele também observa corretamente que uma prática diversa induziria o fiel a ‘incorrer em erro e confusão com relação à doutrina de Cristo sobre a indissolubilidade do matrimônio,’” ele disse.
O cardeal liberal austríaco Christoph Schönborn afirmou que a palavra “discernimento” é a chave para compreender inteiramente a passagem do relatório final que trata das situações matrimoniais irregulares, dando peso à especulação de que o termo será usado para admitir os divorciados recasados no civil à Comunhão.
Porém, o Cardeal Francis Arinze da Nigéria disse ao LifeSiteNews na semana passada que as pessoas em situações objetivamente pecaminosas não podem receber a Comunhão.
“Existe o mal objetivo e o bem objetivo. Cristo tem uma palavra para aquele que [se divorcia de sua esposa e] se casa com outra, ‘adultério’. Não sou eu que digo isso. É o próprio Cristo, que é humilde e manso de coração, que é a verdade eterna. Portanto, ele sabe o que está dizendo.”
“Esse é o caso que São Paulo mencionou ao dizer: ‘Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação [I Cor 11, 28-29].’ Isso é muito severo,” ele acrescentou.
Por LifeSiteNews, 26 de outubro de 2015
Tradução: Teresa Maria Freixinho – FratresInUnum.com
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