Por Pe. Paulo Ricardo
“O casamento só se segura se houver um amor transcendente”, afirma padre Paulo.
Foto: Wesley Almeida/CN
Nós estamos vivendo um acampamento para famílias e também estamos juntos vivendo um acampamento com as famílias.
No Evangelho de São João, ele vai nos narrar uma festa de casamento, é o acontecimento das bodas de Caná.
Se você for olhar o contexto desta passagem bíblica das bodas de Caná, você vai ver que São João começa a narrar, no prólogo inaugural do seu evangelho, a semana de Jesus dia após dia.
Ele vai dizer três vezes “no dia seguinte…”. Nas bodas de Caná, o apóstolo começa assim: “No terceiro dia…”, então se nós formos contar estes “dias seguintes” com o “terceiro dia” do início das bodas de Caná, nós estamos no sexto dia em que Jesus começou o seu ministério.
No livro do Gênesis nós também vamos ver a narração de uma semana; como o autor do livro do Gênesis narra a criação dia após dia, e, chegando no sexto dia Deus criou o homem e a mulher e conclui a sua obra. Então São João, nas bodas de Caná, está fazendo um paralelo da criação com o casamento. No sexto dia se deu a criação do homem e da mulher assim como nas bodas, onde o vinho novo é sinal da nova criação.
São João quando escreveu o evangelho montou uma arquitetura teológica. O que é este vinho?
Todo casamento começa muito bem, mas chega uma hora que o vinho acaba, acaba o amor humano, o amor carnal, o amor Eros.
Muita gente não se dá bem no casamento porque acaba achando que o casamento é uma diversão, que o casamento é uma aventura de um homem com uma mulher, e isso um dia acaba. E esta atração carnal, a paixão que se tem no início não é suficiente para sustentar um casamento.
O verdadeiro amor não é sentimento.
Imaginem só aqueles jovens que estão namorando: eles estão com o todo o gás; o afeto entre os dois é muito grande, é estratosférico, tudo está lindo e maravilhoso; se acender um fósforo explode tudo, é um fogo só.
Mas se você pega um casal de cinqüenta anos, aquele sentimento eufórico do início, o amor carnal, não existe mais; no entanto você vê casos de casais idosos que quando um vem a morrer o outro morre em seguida, porque já não conseguem viver um sem o outro, tal foi o amor entre os dois.
Quando acaba este vinho o que vira o casamento? Cobrança!
Quem foi que disse que sua esposa tem a obrigação de fazer você feliz? Mulher nenhuma ou homem algum vai fazer você feliz, pois só Deus pode satisfazer o seu desejo de felicidade. Seu esposo(a) é na verdade um companheiro(a) de viagem. Só no céu nossa necessidade de satisfação será saciada.
Muitíssimos casamentos não dão certo porque o marido e a mulher vivem com cobranças mútuas, cobrando a felicidade um do outro. Quando você casa, tem uma carga erótica, existe um vinho e este vinho não é ruim, é uma criação divina, mas este vinho do amor carnal não é suficiente. Este amor erótico é algo bom, mas o amor erótico não basta, ele vai diminuindo, diminuindo e acaba.
É por isso que Maria olha para a situação que você vive e diz: “Jesus eles não tem mais vinho, acabou a gasolina que os impulsionava, acabou o vinho que inebriava este matrimônio”.
E O que foi que Jesus disse a Maria nas bodas de Caná: “Mulher, a minha hora ainda não chegou”.
Mas no capítulo 13 de São João, o evangelista começa assim: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
João diz que a hora de Jesus se deu quando amou-os até o fim, e este amor foi o amor da Cruz. A hora de Jesus é o amor, a hora de Jesus é a cruz.
Se você quer salvar a sua família se entregue. A vida familiar não é um passeio no bosque, mas um caminho de santificação.
Transcrição e adaptação: Daniel Machado
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